Importantes datas comemorativas na história de um país provocam a necessidade de uma reflexão. E a celebração do bicentenário da Independência do nosso país é uma dessas datas. E talvez a principal reflexão a se fazer é: Temos de fato algo a celebrar? Devemos celebrar os 200 anos de nossa Independência?
É natural que muitos questionem se realmente houve uma independência, e que outros possam usar o quadro político, econômico e social para invalidar qualquer tipo de comemoração. Tudo isso é válido e perfeitamente compreensivo. Mas não existe fato histórico perfeito. O que existem são fatos que devem sempre ser analisados à luz do tempo e do contexto em que se dão. Posto tudo isso, compreendemos que há muito o que celebrar.
Celebrar a luta daqueles (como Tiradentes) que desde a “Inconfidência” Mineira acreditaram na independência como uma forma de libertação da sangria econômica exercida pela coroa portuguesa, que punia com tributos exorbitantes os que produziam e premiava com promoções os que viviam à custa do Estado.
Celebrar a contribuição importante de figuras como José Bonifácio e da Princesa Leopoldina que entenderam o momento propício e exerceram forte influência junto ao príncipe Dom Pedro para que a independência fosse feita naquele momento.
Celebrar o ato realizado pelo príncipe Dom Pedro (sem entrar no mérito dos interesses pessoais envolvidos) de enfrentar a corte portuguesa e a ameaça de uma guerra com Portugal, para a qual o Brasil não estava preparado.
Celebrar a luta dos milhares de heróis anônimos que perderam suas vidas lutando para que essa independência fosse confirmada em diversas partes do Brasil (Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará), onde uma elite econômica e política tentava invalidar a independência para manter seus empregos e lucros.
Celebrar a garra do nosso povo, que apesar de seus governantes nem sempre traduzir em ações a confiança que lhes foi depositada, nunca deixou de acreditar e lutar para que essa liberdade fosse ampliada, consolidada e mantida a qualquer custo.
Celebrar não significa que aceitamos a nossa independência como um fato perfeito, que ignoramos as contradições, as injustiças, as distorções, que esquecemos a permanência da escravidão por mais 66 anos. Celebrar é reconhecer que o sete de setembro de 1822 marcou o início de uma nova fase de luta. Luta para a construção de nossa identidade como nação, luta para nos afirmarmos no cenário internacional como um país soberano, luta pelo direito de acertar ou errar, mas andando com os próprios pés.
Celebrar é acima de tudo, refletir sobre a trajetória que construímos até aqui e o que queremos para os anos que virão. Por tudo isso, parabéns ao Brasil e aos brasileiros pelo bicentenário da independência.
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(*) Graduado em História pela UEMA. Professor de ensino médio no Colégio Literato, de São Luís-MA.